terça-feira, 17 de novembro de 2009

No Teatro da Vida


Este País, este Estado e suas Instituições são um verdadeiro teatro. Todos posam de honestos, de sérios, de arautos da justiça, de defensores e protetores dos fracos e oprimidos, mas sempre usam e abusam de meios lícitos e éticos ou não para usufruírem vantagens, quer diretas quer indiretas, quer materiais e financeiras, quer meramente de posição, orgulho e satisfação pessoal.
Os dirigentes dirigem de acordo com seus interesses e, principalmente, com os interesses daqueles que os colocaram e os mantêm no cargo. Na verdade são mais dirigidos do que dirigentes, mais comandados do que comandantes, marionetes, cujo verdadeiro dono, o povo, não tem nenhuma influência em seus movimentos, os quais são totalmente controlados por hábeis manipuladores posicionados atrás da cortina puxando e liberando os finos cordões.

Os que estão na platéia não vêem os manipuladores e quase sempre nem percebem os cordões, mas, na grande maioria, sabem como funciona o teatro. O teatro traz um deleite, um certo encantamento que agrada, se não a todos, pelo menos a uma boa maioria que se diverte e aplaude a beleza dos bonecos e a habilidade dos manipuladores. Tira proveito, se distrai, diminui o estresse, aumenta o bem estar, alivia o espírito. Quando a peça está muito ruim o público reage, os críticos influentes emitem opiniões contrárias e, quando não há mais condições e o prejuízo é iminente, trocam-se alguns bonecos, alguns manipuladores e altera-se o enredo. Tudo parece estar diferente e o teatro, revigorado, prossegue.

Os novos astros, no novo enredo, riem do passado, falam mal dos que saíram para dar a impressão de que tudo agora é diferente. Mas um observador mais atento percebe que alguns dos bonecos da antiga trupe permanecem nesta nova montagem. Em novas posições, com novas roupas e falas bastante diferentes das anteriores, mas com o mesmo objetivo de distrair e ludibriar a platéia.

Alguns bonecos, por suas expressões e formas, são sempre necessários e se tornam quase que permanentes. È difícil achar outros com características semelhantes para aquele papel e, por isso, permanecem, mudando apenas de posição. Também há casos em que são importados bonecos de outros rincões para assumir determinados papéis, não por falta de bonecos (às vezes até tem demais nos armários), mas não se encontra um com as características desejadas.

Há também casos em que a permanência em cena é determinada pela preferência dos manipuladores, por causa das expressões do fantoche ou pela maior facilidade de manipulação. Sim, há bonecos de difícil manipulação. São de articulações rígidas, com partes que não se dobram, dedos não articulados e sempre levantados, como que em riste a condenar ou criticar as expressões e falas de outros participantes da equipe. Estes são logo descartados pelos manipuladores, guardados ou, quando o descarte é impossível, postos em posição de pouco ou nenhum destaque.

O teatro retrata a vida. A vida é um teatro. É só olhar em volta para ver que qualquer semelhança não é mera coincidência. Existem os que mandam, os que são mandados, os que são usados, os descartados, os protagonistas, os figurantes, os falantes, os calados, os que obedecem, os teimosos, os flexíveis, os durões, os radicais e os que ainda acreditam, como eu, que as coisas podem mudar de verdade e que o teatro possa continuar existindo, porém sem manipuladores e com pessoas reais no lugar dos fantoches.

Quem somos? Quem é você? Qual o seu papel?

Não importa. Importa ter a consciência da importância de cada um. Por mais que as coisas andem mal, acredite que podem melhorar. Basta que todos saiam da qualidade de bonecos (ou “bonecas”) e se tornem gente. De marionetes para pessoas de carne e osso e cérebro, principalmente. Sair do armário ou de qualquer lugar onde fomos lançados, entrar no palco, entrar em cena. Livrar-se dos cordões e exercer o papel por conta própria, fazer, analisar, denunciar.

Todos temos a nossa importância, o nosso valor. Por mais que tenhamos sido lavados, amarrotados, pisados, descartados, rejeitados, deixemos de lado as idéias preconcebidas, os padrões tradicionais do “manda quem pode e obedece quem tem necessidade” e assumamos o nosso papel de participantes ativos de uma sociedade que cada vez mais precisa de pessoas boas, corretas, honestas e éticas, mas com o atrevimento, a coragem e a ousadia dos maus, desonestos e corruptos.

Pense nisso.

Geraldo Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário