quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Uma Gota de Cultura 2 - Zé da Luz

A cultura popular do nordeste brasileiro é muito rica e reconhecida internacionalmente. Infelizmente, nós, os nordestinos, não a valorizamos o tanto quanto deveríamos. São centenas de artistas nas mais diversas áreas, escondidos por esses rincões: escritores, compositores, cantores, romancistas e poetas. Cantam nossa terra, nossa cultura, nossas tradições. Estas já bastante deturpadas, justo pelo desconhecimento e falta de valorização. Alguém já disse que quem não conhece o passado, não valoriza o presente e não tem futuro.
Vasculhando essa cultura, encontrei Zé da Luz, um poeta popular paraibano, do qual ouvi falar pela primeira vez num programa de Rolando Boldrim, na TV Cultura (recomendo - às terças-feiras/22 hs).
Zé da Luz, cujo nome verdadeiro e completo é Severino de Andrade Silva, nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965. O trabalho dele é conhecido pela linguagem matuta presente em seus cordéis. Como na Paraíba todo mundo é José, essa é a única explicação que encontro para a alcunha com a qual ficou conhecido.

Poeta matuto, poeta da terra. Poetizou o nordeste, o sertão nordestino, com suas histórias de dor e de amor, com a linguagem pura do caboclo, que faz sorrir e, por vez, chorar, que encanta e embobece o sábio e deleita o simplório.
Zé da luz foi alfaiate por profissão, mas soube mesmo foi vestir de bela rima a cultura da qual emanou.
Dentre as suas poesias destaco:

AS FLÔ DE PUXINANà                                                              


Autor: Zé da Luz


Três muié ou três irmã,
Três cachôrra da mulesta,
eu vi num dia de festa,
no lugar Puxinanã.

A mais véia, a mais ribusta
era mermo uma tentação!
mimosa flô do sertão
que o povo chamava Ogusta.

A segunda, a Guléimina,
tinha uns ói qui ô! mardição!
Matava quarqué cristão
os oiá déssa minina.

Os ói dela paricia
duas istrêla tremendo,
se apagando e se acendendo
em noite de ventania.

A tercêra, era Maroca.
Cum um cóipo muito má feito.
Mas porém, tinha nos peito
dois cuscús de mandioca.

Dois cuscús, qui, prú capricho,
quando ela passou pru eu,
minhas venta se acendeu
cum o chêro vindo dos bicho.

Eu inté, me atrapaiava,
sem sabê das três irmã
qui eu vi im Puxinanã,
qual era a qui mi agradava.

Inscuiendo a minha cruz
prá sair desse imbaraço,
desejei, morrê nos braços,
da dona dos dois cuscús!

A CACIMBA


Autor: Zé da Luz

Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho,
im riba da ribanceira,
qui fica, assim, pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.

Pois, um magóte de môça
quage toda manhanzinha,
foima, assim, aquela tuia,
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.

Eu não sei pru quê razão,
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...

As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça...
Tem um gostim do suó
do suvaco déssas môça...

Quando eu vejo éssa cacimba,
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...

... Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote,
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magóte
de môça tumando banho!

Muitas outras, daí pra melhor, você vai encontrar como Brasi Caboclo, uma de suas melhores obras.
Mais Poesia de Zé da Luz