sábado, 19 de março de 2011

Da palmatória à cadeirada

Não que se queira ser a palmatória do mundo, mas é urgente refletir sobre as mudanças na educação que as gerações presentes têm presenteado as crianças e os jovens, de certos tempos para cá. Com freqüência, vimos noticias nos meios de comunicação dando conta de agressões sofridas por professores, dentro das próprias salas de aulas. O caso mais recente foi o da professora que ao pedir silêncio para a turma foi surpreendida com uma cadeirada, ferindo-a na altura da cintura, não tendo o caso um desfecho mais grave, graças à intervenção de outros alunos que conseguiram conter o estudante (ou meliante).  (a notícia)
Muitos outros casos de agressão são vistos com freqüência na mídia. E de quem será a culpa? Será que os jovens de hoje são mais violentos e menos tolerantes? Será que os professores dos tempos atuais são incompetentes e menos hábeis para lidar com a juventude? Será que os filmes, os desenhos animados e os jogos eletrônicos incitam a violência? A resposta é não.

Sempre existiram filmes de violência desde os “cowboys”, os filmes e seriados policiais e os de artes marciais. O veterano John Wayne iniciou seu sucesso em 1930 e em várias películas disparou centenas ou milhares de tiros, acabando com a vida de muitos bandidos e índios revoltosos, no sangrento velho oeste americano. O mocinho com cara de malvado carregava dois potentes revólveres na cintura e não hesitava em dispará-los exterminando quem atravessasse seu caminho. E os orientais especialistas em caratê ou outras artes afins chegavam a arrancar a cabeça de seus inimigos com golpes fatais. E muitos outros filmes que envolviam a máfia italiana, os agentes secretos ingleses como o 007, as guerras que geravam os “heróis” americanos como o Rambo, e tantos e tantos outros, eivados de violência, mas que nem por isso geravam essa violência nos jovens espectadores entusiasmados.
Nas escolas, os alunos eram duramente castigados se cometessem algum deslize. A palmatória era usada para punir por um “mal feito” ou até por não ter acertado a tabuada. As crianças eram postas de joelhos por determinado tempo, como pena reparadora de determinado erro, à vista dos colegas, para servir de exemplo. Ser mandado para a Diretoria era um terror; significava erro grave pelo qual os pais deveriam ser comunicados e poderia motivar a suspensão ou até expulsão da escola. Tudo isso era feito com a autoridade e a autonomia do corpo docente, com plena aprovação e consentimento dos pais ou responsáveis. Todos os colégios mantinham normas disciplinares rígidas, todas de pleno conhecimento das famílias e da sociedade.
Mas, como diz o poeta, o tempo não pára. A terra gira e mundo está em constante evolução. Algumas crianças podem ter ficado traumatizadas com esses rígidos castigos do passado. Em verdade, nunca vi ninguém com esses traumas, mas é possível que exista, afinal, conheço muito pouca gente nesse mundão de meu Deus. A evolução trouxe mudanças que, paulatinamente, foram transformando os métodos e as práticas educativas.
Entramos na era do diálogo, da conversa, do não à violência. Infelizmente chegamos a fases em que tudo era permitido. É proibido proibir.
Isso sim trouxe conseqüências desastrosas. Hoje, demos graças, muitos de nossos sábios já reconhecem os erros do excesso do “tudo é permitido” e afirmam que crianças e jovens necessitam que lhes sejam impostos limites.
Tudo isso foi estendido às demais áreas do conhecimento e da sociedade. Há uma confusão no conceito de cidadania, de direitos individuais e coletivos e até de direitos humanos. Há leis que punem os infratores, mas há uma gama de outras normas legais que protegem os maus elementos, os caloteiros e outros.
Antes, o professor castigava o aluno com o consentimento e aprovação dos pais. Hoje, se o professor der um carão no estudante, os pais recorrem à imprensa e à justiça exigindo reparação e até indenização por constrangimento e danos morais, ou seja, o aluno erra e o professor é castigado.
A professora agredida com a cadeirada, mencionada no início, ficou ferida por fora e por dentro, e nada mais; o agressor, segundo a imprensa, poderá ser punido com a suspensão por uma semana de aula. Será que para esse jovem patife, isso será castigo? Ou será prêmio?

Suponho, mas não tenho certeza da resposta. Mas uma certeza eu tenho: se, ao contrário, a mestra o tivesse agredido, ainda que apenas com duras palavras ofensivas, seria ela execrada pela imprensa e por toda a sociedade e, no mínimo, perderia a cátedra. Felizmente ela não perdeu a cadeira; infelizmente ganhou a cadeirada. E o salário, oh!






Geraldo Freitas Souza
março/2011

2 comentários:

  1. é...que pena que tudo isso é verdade... : (

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  2. "É importante deixar filhos melhores para haver um mundo melhor" Educação e tolerância começam em casa! Não é preciso voltar a época da palmatória...a criança bem orientada, levará consigo esses princípios.

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