sexta-feira, 11 de março de 2011

Carnaval de ontem e de hoje

Desde a não participação na festa porque a mulher não deixa até o reconhecimento do cansaço e da fraqueza dos super-heróis que “fogem” do perigo, passando pelo amasso das latinhas com os músculos glúteos, o que facilitaria o trabalho dos catadores, tudo isso demonstra a “evolução” da musicalidade que rege a maior festa popular brasileira, o carnaval.
O carnaval de hoje pode ser tido como uma festa cultural, mas não como cultura.
O carnaval era samba, frevo e marcha ou marchinhas com suas variações como a marcha-rancho (eita, que antiguidade!), mas hoje, principalmente no nordeste, é “axé”, “pagode” e até forró. Não se fala e muito menos se compõem músicas de carnaval ou para o carnaval. Pega-se o que há de pior qualidade, desde que tenha um toque de sexualidade e erotismo ou pelo menos de duplo sentido, atribui-se um arranjo mais acelerado e pronto; eis aí a música para o carnaval.
Colombinas, arlequins e pierrôs povoavam os salões e as canções carnavalescas de outrora, atribuindo-lhes um sabor misto de alegria, sensualidade e romantismo, por vezes permeado por sentimentos de ciúme e traição. O ritmo frenético do frevo fluía dos metais; sambas e marchinhas emanavam da percussão cadenciada e os foliões dançavam e pulavam, ao tempo em que se embeveciam com as letras românticas, com toques de humor e malícia, abraçados às suas caras-metades ou a procura delas. A marcha-rancho surgia como um alento, um refrigério, acalmando os ânimos e aconchegando os corações apaixonados.
O carnaval sempre foi uma festa profana, carregada de malícia e sensualidade. As letras sempre ressaltaram o namoro, a beleza feminina, o triângulo amoroso. Também faziam referência a fatos históricos ou atuais, em destaque na época. A ida do homem ao espaço sideral e à lua, o início do conflito em Israel, a mudança da capital do Brasil para Brasília foram alguns dos temas que marcaram época e inspiraram os compositores momescos.
O carnaval é cultural. Confetes e serpentinas, pouca roupa e muito brilho, homens vestidos de mulher, mais liberalidade nos vícios e na sexualidade. Tudo isso é carnaval, tudo isso sempre se viu embora cada época tenha seu grau de permissividade. O que ontem era proibido, hoje é permitido. Não vou opinar sobre o que acho certo ou errado. Cada um construa a sua própria opinião.
E o que mudou?
Para mim mudou a criatividade. Basta ver as letras com poucas frases e meramente apelativas. Mas, mudou principalmente o sentido cultural da maior festa popular brasileira. Transformaram o carnaval numa festa de rua sem identidade. Alteraram o “DNA” da folia de Momo e ela hoje é irreconhecível posto que se confunde com qualquer outra festa. Se duvida, vá ver, em qualquer cidade, suas festas comemorativas em qualquer época do ano. São as mesmas bandas, as mesmas músicas e as mesmas “misturas de ritmos”.
É preciso resgatar essa cultura. Não que se volte a carnavais como os de antigamente, mas que sejam carnavais. Que tenham canções e ritmos próprios dos carnavais. Que tenham músicas e letras que falem do carnaval, que falem do amor e do romance entre os foliões (homem e mulher), ainda que amores efêmeros, que ressaltem a alegria e que ironizem a tristeza. Enfim, carnaval com identidade própria, que não se possa confundir com festa de aniversário da cidade, com festa da Padroeira (no seu aspecto profano) nem muito menos com a tradicional festa junina.
Ainda bem, que aqui e ali ainda surgem algumas poucas manifestações do autêntico carnaval, mas é muito pouco.
Pense nisso e de quebra conheça ou relembre uma marcha-rancho de grande sucesso nos carnavais do passado.

“Tanto riso, oh! Quanta alegria,
Mais de mil palhaços no salão.
Arlequim está chorando pelo amor da colombina,
No meio da multidão.

Foi bom te ver outra vez
Está fazendo um ano
Foi no carnaval que passou,
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou,
Que te beijou, meu amor,
Na mesma máscara negra
Escondes teu rosto,
Eu quero matar a saudade.
Vou beijar-te agora,
Não me leve a mal
Hoje é carnaval.

(Máscara Negra - Zé Queti – 1967)
Geraldo Souza
Carnaval de 2011

4 comentários:

  1. APLAUSOS MIL!!! Eita que quando ele escreve é pra parar o mundo do blog rsrs!! É claro que eu vou divulgar lá no meu!

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  2. ´parabéns Geraldo, belas palavras, concordo com sua opinião tbm acho que o carnaval tem que ter sua identidade propria,é o caso de Aramndinho que hoje na bahia segue sulfocado pelos ritmos atuais.mas em pernabuco precisamente em olinda o carnaval segui altentico com fantazias de arleqins e colombinas mesmo com muitos obstaculos, vamos continuar lutando p q o carnaval continui sendo carnaval, com muita alegria... boa semana !!! gledson fabio rsrssr

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  3. Cada novo post supera o anterior!
    Como dizem...a prática leva a perfeição!
    Tô gostando de ver...e quero ler muito mais!
    Parabéns, meu orgulho!

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  4. Que bom ter um tio intelectual e com quem eu posso trocar opiniões...
    É verdade, o carnaval perdeu muito a sua magia, mesmo sendo uma festa profana e cheia de sensualidade, houve um tempo em que esse carnaval era uma festa de paz e alegria.
    Lembro muito quando criança, la na velha casa da Vó no Carlito Pamplona, o tio José Nilo saindo vestido de mulher,com a roupa da tia Fransquinha e o rosto vermelho de beterraba,escondido do vovô kkkkkk era impagável...tempos bons que não voltam mais, uma pena!

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