domingo, 23 de agosto de 2009

Jornalista. Ser ou não ser?

Gostaria muito de escrever em um jornal, um semanário ou um diário, mas só nos finais de semana quando as pessoas têm mais tempo para ler e lêem até as bobagens escritas por amadores e, assim, divulgar minhas idéias, propagar as opiniões que tenho sobre determinados assuntos. Nunca ousei. Sempre achei muito difícil pois não sou jornalista nem conheço a “galera” da imprensa que pudesse me dar aquela mãozinha.

Nesta semana, explodiu nas televisões, rádios e jornais de todo o país a notícia de que para ser jornalista não precisa mais sê-lo; ou seja, qualquer elemento (como eu) pode escrever nos jornais, fazer reportagens, escrever artigos e matérias jornalísticas sem, necessariamente ter um diploma de jornalista. E quem assim o determinou foi ninguém menos que o Supremo Tribunal Federal, mais conhecido como STF, que dá a última palavra sobre o que pode e o que não pode, o que a lei deixa ou não deixa, quem pode e quem não pode de acordo com a legislação brasileira, em todo e qualquer ramo do conhecimento humano. Nessa instância, não há mais o que fazer ou a quem recorrer. Não cabe mais recurso, como diriam os doutos do direito.
De pronto, confesso que até fiquei feliz pois vislumbrei, ainda que remota, uma possibilidade de me tornar jornalista de final de semana. Mas minha felicidade foi efêmera, pois logo a realidade veio à tona: se nunca busquei a ousadia de escrever em semanários ou diários, como agora conseguiria? Com certeza, se nunca escrevi não foi por falta do diploma de jornalista já que vejo e, às vezes, leio nos jornais artigos escritos por advogados, médicos, professores, padres, bispos, pastores, espíritas, poetas, sindicalistas e outros mais que, por certo, não possuem o agora desprestigiado diploma. Daí, fiquei meio confuso. Eu poderia escrever em jornais sem ser jornalista, mas não poderia exercer a profissão de jornalismo e agora eu posso até ser jornalista sem ter o diploma e exercer legalmente a profissão como se fosse jornalista. Será que é isso?
Como funcionam as coisas neste País?
Para um simples mortal, como eu, fica muito difícil entender.
Hoje, as profissões são regulamentadas, tem normas reguladoras, conselhos fiscalizadores, justamente para coibir o exercício ilegal, o charlatanismo.
Nos tempos pretéritos, mulheres faziam partos e não eram obstetras, eram mulheres experientes, mas com pouco ou nenhum estudo, chamadas de parteiras que “pegavam” os recém nascidos; havia dentistas práticos cujos conhecimentos técnicos eram, às vezes, passados de pais para filhos; os rábulas conheciam profundamente as leis e atuavam nos tribunais como advogados, muitas vezes com competência ímpar que os tornava famosos até nacionalmente. Mas, nos tempos presentes as mudanças foram ocorrendo em todos os sentidos e essas práticas não mais são admitidas. A evolução obriga ao conhecimento e as profissões organizadas e regulamentadas se aprofundam mais e mais nesse conhecimento na busca do aperfeiçoamento e conseqüente domínio, impedindo a atuação de leigos que desconheçam a matéria.
Acho que os Ministros da Suprema Corte não pensaram nessa direção. Desprezaram o conhecimento adquirido para ressaltar o dom natural. As comparações, com todo o respeito, chegaram a ser hilárias ou ridículas. O Presidente da Corte comparou com a capacidade de cozinhar sem ser formado em nenhuma faculdade. E a comida fica ótima. Outro levou o tema para o dom dos poetas que também não carecem de formatura ou diploma para construir belas páginas literárias. Referiram-se até à liberdade de expressão o que me deixa confuso e perplexo pois, como já mencionei, muitos expressam-se nos meios de comunicação sem serem comunicadores diplomados.
A Suprema Corte cortou o barato de uma profissão, de uma categoria organizada. Porém, a meu ver, pisou na bola e perdeu a chance de fazer um belo gol de placa.
Hoje, quando muitas carreiras exigem diplomas de nível superior para ingresso, sem que os conhecimentos desses cursos tenham qualquer relação com as atividades que serão desenvolvidas, deparamo-nos com decisões desse tipo, abrindo precedentes de futuro incerto. Ou o Supremo Tribunal cometeu um grande equívoco ou há mistérios insondáveis que só Eles conseguem compreender.

Jun/2009
Geraldo Souza

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